terça-feira, 13 de março de 2012

Vê-la

Vê-la
Neyl Santos

Há quem passe horas em frente ao Quarto¹, outros que ficam hipnotizados diante da Monalisa², e ainda aqueles que com o mundo explodindo não tiram os olhos do Grito³.

                Meus neurônios nunca entenderam tanta admiração, nunca viram sentido nesse tipo de coisa, até que meus olhos, pobres por natureza, avistaram o que pra mim, não é nada menos que a obra prima do criador. Minhas retinas foram expostas ao que há de mais sublime, de mais perfeito. E eu fiquei ali, durante longos instantes, verificando cada milímetro quadrado daquela figura feminina. Pude então perceber, a magia transmitida até os meus olhos que funcionaram como meros receptores, meros receptores de algo que penetrou meu corpo e ativou um dispositivo até então desconhecido, capaz de desligar os sentidos para qualquer outro foco que não ela.

                E ela parecia ter vida, parecia sorrir pra mim, parecia falar comigo. Por um instante, senti tocar sua mão, um instante longo o suficiente para pensar em duas dúzias de coisas pra fazer, pra falar. Ela parecia ter cheiro, e eu a senti do meu lado como se dentro de mim, obrigando meu coração a trabalhar à força máxima, bombeando sangue e nervosismo por todo o meu corpo.

                Senti sua mão deixando a minha, senti sua voz ficando em memória, senti o meu corpo voltando pra mim, senti que um sonho ali eu vivi admirando o que de mais belo meus olhos já viram. 



1. O Quarto de Van Gogh
2. Monalisa de Leonardo Da Vinci
3. O Grito de Edvard Munch

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